31 de julho de 2019
As novas alternativas terapêuticas para leishmaniose cutânea (LC) foram destaque no segundo dia de Medtrop-Parasito/ChagasLeish 2019. Em conferência no Centro de Atividades Didáticas (CAD) da UFMG, o diretor do programa de LC da DNDi, Byron Arana, apresentou os resultados dos ensaios clínicos de fase II referentes à combinação entre niltefosina, fármaco já utilizado para tratar a doença, e a termoterapia.
Realizado na Colômbia e no Peru, o estudo detectou que a terapia combinada pode atingir uma taxa de cura de aproximadamente 80% para a LC. Isso a torna mais eficaz do que, por exemplo, as aplicações de calor feitas em separado e mais segura que as injeções de antimoniato de meglumina (outro tratamento disponível para a doença).
A próxima fase do projeto será realizada no Brasil, em parceria com centros de referência da Bolívia, do Peru e do Panamá. Os dois estados que vão sediar os ensaios são Bahia (Centro de Referência Dr. Jackson Costa) e Mato Grosso do Sul (Hospital Universitário Julio Muller).
“É triste ainda estarmos utilizando, depois de quase meio século, os mesmos medicamentos para leishmaniose cutânea. Mas, nos últimos anos, o problema passou a ser quantificado de maneira mais sistemática. Já existem estudos, principalmente em mulheres e crianças, que enfocam o impacto da doença em sua qualidade de vida”, relatou Arana.
A carga psicossocial das pessoas afetadas por doenças negligenciadas também norteou a conferência de Sérgio Sosa-Estani, diretor do programa de Chagas da DNDi. Ao longo de sua fala, o pesquisador defendeu a maior notificação não somente de pacientes na fase aguda da doença, mas também dos casos crônicos.
“Isso é absolutamente relevante em dois sentidos: é a oportunidade de uma pessoa afetada ingressar no sistema de saúde e a possibilidade de conhecermos melhor o impacto social e econômico de Chagas, e de desenharmos uma linha de base para monitoramento da doença nas próximas décadas”, explicou.
Sosa-Estani também destacou a importância do tratamento de mulheres em idade fértil, de maneira a evitar futuras transmissões congênitas de Chagas.
“Pesquisa conduzida em 2014 com 144 mulheres afetadas e seus filhos mostrou que todas as crianças cujas mães foram tratadas não apresentaram infecção. Vê-se, então, a necessidade reivindicar o tratamento compulsório neste grupo”, apontou.